Apresentar dados sobre a discrepância entre gêneros parece ser uma questão bastante corriqueira e rebatida. No entanto, continua ser um tema premente e de complicada solução.
Tive curiosidade de levantar dados a respeito da paridade de gênero nos setores públicos e privados e o que encontrei foi realmente uma surpresa. Aqui vamos nos ater à distribuição justa de cargos de chefia entre gêneros.
Fatos através dos números
Como pode ser visto mais abaixo, o setor privado parece ter mais flexibilidade quanto a promover mulheres na direção das empresas e nas gerências. Já o setor público demonstra pouca abertura para escolhas equilibradas no momento da nomeação de cargos.
Conforme o Portal ODS, os três poderes públicos, executivo, legislativo e judiciário, possuem a mesma característica.
Embora de mulheres presentes neste setor quase alcançam 50%, mais de 90% dos cargos de chefia são ocupados por homens em todas as cidades selecionadas para este artigo.
A seleção das cidades foi feita com referencial a partir de Juiz de Fora. Escolhi algumas mais próximas: Cataguases e Barbacena; cidades com características populacionais e econômicas similares à Juiz de Fora: Uberaba e Uberlândia e outras com características similares mais próximas à Belo Horizonte: Contagem e Betim.
A seguir, elaborei uma visualização para compreender como essa diferença entre os setores é maior do que acreditamos.
Com os dados visualizados é possível ver a discrepância entre os cargos de chefia do setor privado e público:
O setor privado apresenta ainda uma discrepância entre os gêneros, mas cargos de dirigentes e gerentes ficaram em torno de 40% nas mãos femininas, caminhando para igualdade.
Já o setor público demonstra baixíssima inclusão feminina, principalmente nos cargos com poder de decisão como o de gestor público, quais sejam prefeitos, ministros, secretários dos entes federativos, presidentes de empresas públicas, cargos de direção de agências governamentais, entre outros.
Uma consequência grave
Escolher mulheres para o poder não é uma tarefa fácil. Além da dificuldade de se estabelecer como uma candidata a cargos mais altos dada a estrutura machista em que se encontra nossa sociedade, o casamento, o cuidado com a casa e os filhos ainda pesam sobre a responsabilidade da mulher.
Se por um lado, há pouca oferta desses cargos para mulheres, por outro há realmente poucas mulheres que podem e querem abdicar seus afazeres que podem comprometer seriamente essas mesmas responsabilidades. É um ciclo que vem se retroalimentando.
Exatamente como acontece com a prevalência de homens brancos no poder público, a baixa participação feminina em cargos de decisão impactam em como as políticas são elaboradas e os nichos que atendem.
Este é o principal problema da predominância de uma característica, seja qual for, em cargos decisórios.
Homem no poder
Como afirma Ivan Mardegan na entrevista para a FGV, não é somente uma política de aumento de quotas para cargos no legislativo que irá melhorar a paridade de gênero. Os três poderes possuem a mesma estrutura e, portanto, há necessidade de outras abordagens inclusivas em todos os setores.
Mas parece que, pode ser estranho dizer isso, dar prioridade a paridade de gênero parece ser uma decisão para homens. Homens que atualmente estão no poder, como o Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que em 2015 montou seu gabinete com paridade de gênero.
No setor público executivo deixa de ser uma questão puramente normativa e passa a ser de escolha política de gestores que permanecem no poder por tempo limitado. Por exemplo, o poder executivo dos países da Islândia, Finlândia, Costa Rica, Etiópia, Costa Rica, Noruega determinaram 50% das cadeiras para mulheres.
França, Suécia, Nova Zelândia, Bolívia, Ruanda são países que adotaram leis de paridade obrigatórias para o legislativo. Também no âmbito dos poderes judiciário passa a ser uma questão de escolha e oportunidade, mas países como Suécia, Canadá, Nova Zelândia, Bélgica e Austrália adotaram medidas para preenchimento de cargos para mulheres neste segmento.
O exemplo é o grande motivador para isso. Governos que optaram pela paridade são literalmente diferentes. O exemplo do poder executivo de todos os entes federativos, e que a rigor dirige o país, os estados e os municípios, deveriam ser a adotação de 50% mulheres em todos os escalões.
É para já! E pode ser para hoje.